O Leque…inteligente

Novidades tecnológicas (que são novidades científicas já disponíveis para o uso) podem ser simbolizadas por leques, aqueles com que as madames da Belle Époque gostavam de se refrescar ou esconder atrás. Quando fechados parecem apontar a uma só direção, que deve ser entendida como a aplicação, o uso da novidade. Mas logo o leque é aberto, e percebemos que a novidade tem múltiplas facetas que apontam para uma variedade de usos e efeitos, uns bons e outros maus. O exemplo mais atual de leque tecnológico é a chamada Inteligência Artificial ou IA.

Eu não sei direito o que é esta IA. Meu único contato com a mesma foi um e-mail em língua estrangeira que estava escrevendo – por curiosidade o escrevi em português e fui ao Chatgpt para que o traduzisse. Sucesso – não total, porém: a ironia expressa por uma palavra lhe escapou, e a omitiu, talvez por considera-la desnecessária. Demostrou-se habilidosa a IA, mas pouco sutil. Daí pedi que escrevesse um poema sobre a noite. Bonzinho, embora um pouco frio. Parece que é capaz de pintar quadros!

Quadro pintado por IA – no estilo Van Gogh

Fui ao Google procurar me instruir sobre IA, mas me intimidei com a quantidade de fontes e comecei a ir de uma para outra como barata tonta. Pensei: “vou fazer a IA falar de si mesma”, e a pergunta ao Chatgpt foi: “escreva um texto sobre IA.” Em 3 segundos ela me preparou um texto de 483 palavras:

A Inteligência Artificial (IA) é uma das inovações tecnológicas mais transformadoras da nossa era, impactando praticamente todos os setores da sociedade. Em termos simples, IA refere-se a sistemas ou máquinas que imitam a inteligência humana para realizar tarefas e que podem se aprimorar com base nas informações que coletam. Através de algoritmos avançados, redes neurais e aprendizado de máquina, essas máquinas são capazes de processar grandes volumes de dados de forma rápida e eficiente.

Tipos de IA

Existem dois tipos principais de IA: a IA restrita e a IA geral. A IA restrita, também chamada de IA fraca, é especializada em executar tarefas específicas, como reconhecimento de fala, processamento de imagens ou jogar xadrez. Sistemas como os assistentes virtuais (Siri, Alexa) e ferramentas de recomendação de conteúdo utilizam IA restrita.

Por outro lado, a IA geral (ou IA forte) é um conceito ainda teórico, onde a máquina teria capacidades intelectuais equivalentes ou superiores às humanas, podendo realizar qualquer tarefa cognitiva. Esse nível de IA levantaria questões éticas e existenciais, pois implicaria em máquinas com capacidade de aprendizado e adaptação em níveis comparáveis aos do cérebro humano.

Aplicações da IA

A IA já está profundamente integrada em vários aspectos da nossa vida cotidiana. Na medicina, ela é usada para diagnosticar doenças, prever surtos de epidemias e desenvolver tratamentos personalizados. Na indústria, robôs com IA são empregados em fábricas inteligentes para otimizar a produção e minimizar erros. No setor financeiro, a IA é utilizada para analisar padrões de mercado, identificar fraudes e gerenciar investimentos.

No campo dos transportes, a IA está presente em carros autônomos, que utilizam sensores e algoritmos para navegar com segurança nas estradas. No comércio eletrônico, ela personaliza a experiência do consumidor, oferecendo recomendações de produtos com base em comportamento e preferências passadas.

Desafios e preocupações

Embora a IA traga muitos benefícios, também apresenta desafios. Um dos principais é o impacto no mercado de trabalho, já que muitas tarefas realizadas por humanos estão sendo automatizadas. Além disso, há preocupações éticas relacionadas à privacidade e ao uso de dados, assim como o risco de viés algorítmico, onde decisões automatizadas podem refletir preconceitos presentes nos dados.

Outro ponto de atenção é o debate sobre o desenvolvimento de IA em sistemas de armas autônomas, que levantam sérias questões sobre controle e responsabilidades em situações de guerra.

O futuro da IA

O futuro da IA é promissor e cheio de possibilidades. À medida que a tecnologia avança, espera-se que a IA seja cada vez mais capaz de realizar tarefas criativas e complexas, como escrever músicas ou desenvolver soluções inovadoras para problemas globais. No entanto, é essencial que o desenvolvimento da IA seja acompanhado de discussões éticas e regulamentações adequadas, para que os benefícios sejam amplamente compartilhados e os riscos minimizados.

A IA, sem dúvida, continuará moldando o futuro da humanidade, oferecendo ferramentas poderosas para inovação, mas também exigindo que sejamos conscientes de seus limites e impactos.

Vista artística de cérebro cibernético

Bem, a IA falou sobre si mesma, e honestamente acenou a seus problemas. Mas eu queria saber mais a respeito desses problemas.

Quando se inicia em um novo campo do conhecimento, a primeira coisa a fazer é procurar artigos introdutórios – e nisso o Google é imbatível. Ele necessita, porém, de um mínimo de discriminação – se o título do artigo é coerente com o que foi pedido, se essa fonte é mais acreditada que aquela, etc. Acontece porém que eu já conheço um dos problemas da IA: gerador de preguiça. Assim, vou adotar essa preguiça e pedir à IA, ou seja, ao Chatgpt que fale de suas deficiência e problemas. Sua resposta está abaixo (cada item tem um comentário que eu omiti aqui por razões de espaço), e completa o pouco que ela já disse antes em Desafios e Preocupações, quando lhe pedi “um texto sobre IA”.

  1. Perda de empregos
  2. Vieses e discriminação
  3. Falta de transparência
  4. Preocupações com a privacidade
  5. Riscos de segurança
  6. Desigualdade econômica
  7. Dependência excessiva de IA
  8. Desinformação e deepfakes
  9. Impactos éticos e filosóficos
  10. Supervisão e regulamentação insuficientes

Vamos comentar os Nos 1, 2, 7 e 9.

1. Perda de empregos: essa questão remonta aos primórdios da computação, quando alardeava-se que apesar de empregos serem perdidos outros tantos seriam criados. Vimos que não foi assim, e isso deve se repetir com IA: um estudo de 2023 da OECD (Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento) diz que em média 23% dos trabalhadores de 38 países da UE, na próxima revolução da IA vai ter automatizadas suas funções. É certo, porém, que algumas fontes colocam uma paridade entre empregos perdidos e criados, mas penso que a elas falta visão histórica.

2. Vieses e discriminação: em IA o que entra é igual ao que sai – dependendo dos dados recolhidos e tratados, ela pode perpetuar erros e vieses, por exemplo, emitir opiniões racistas, antéticas, manipulativas, etc.

7. Dependência excessiva de IA: o uso constante e a facilidade de obter respostas e escrever em nossa vez embotam o cérebro, que perde a capacidade de memorizar, de resolver problemas e elaborar estratégias. É a já citada preguiça intelectual. Aqui reside um enorme problema: por exemplo, como avaliar alunos na escola, como saber se o ensaio produzido veio deles ou da IA. O mesmo na vida profissional: relatórios e projetos de origem desconhecida. Como avaliar capacitações, na academia e na profissão? E finalmente a já mencionada preguiça, pois a facilidade de obter respostas sem esforço, sem pesquisa, sem ativar grupos de estudo, de trabalho, pode criar uma geração desacostumada a pensar.

9. Impactos éticos e filosóficos: o ser humano é uma mistura de emoção e racionalidade, a segunda coadjuvando a primeira na resolução de problemas. A IA é comandada por algoritmos e baseia-se em um mar de informações – Big Data se chama esse mar – por isso, pelo menos por enquanto a IA ignora sentimentos, tolhendo-lhe um importante elemento de comunicação com os humanos.   

Por fim, chega-me hoje a notícia que AI está sendo utilizada na guerra Israel-Hamas para otimizar o desempenho de Israel em multiplicar, localizar e destruir tantos alvos inimigos quanto possível. É a haste mais perversa do leque.  

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